sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

3. St. Jean Pied Port


E então, cheguei!
E cheguei também à conclusão que tenho o dever de incluir algumas dicas para aqueles que eventualmente resolvam abraçar esse desafio.
Muito do que vou dizer já é patrimônio de conhecimento testado, re-testado, e sempre aprovado por muitos e muito peregrinos; mas quem sabe, eu possa conseguir adicionar um detalhe novo aqui ou outro ali.
Bem, tomar um trem em Madrid com destino a Pamplona em classe turística custa 45 Euros. Mas, e depois?
De Pamplona a St. Jean Pied Port, onde começa o Caminho Francês, são aproximadamente mais 70 quilômetros.
No meu caso, segui uma indicação do pessoal da Associação dos Caminhantes de Santiago em São Paulo, onde consegui minha credencial de peregrino. Lá, eles me deram o telefone de um tal Sr. Antônio, ou “Andone”, que é como se fala seu nome no idioma basco. E, embora tenha telefonado quando já estava no trem para Pamplona, ele aceitou me levar e tudo correu muito bem.
O preço da viagem é salgado (72 Euros), mas quem sai pelo caminho tem que andar, não é mesmo? Isso seria uma adaptação incidental de: “quem sai na chuva tem que se molhar”, e escrevi assim sem pensar sobre o que uma chuva poderia me impactar durante o Caminho, o que logo no primeiro dia, conforme narrarei em seguida, eu pude constatar.
Sr. Antônio parecia gostar de levar peregrinos a St. Jean, e senti que ele se deliciava com minhas reações admiradas a cada nova informação que me passava. Foram muitas dicas, as quais espero aproveitar, e quando me dei conta, já havia chegado.
Passei pelo arco de St. Jaques e peguei o primeiro carimbo para minha credencial. Espero pegar muitos carimbos até chegar a Santiago.
Vale aqui uma explicação: A credencial, mencionada acima é o passaporte que dá direito ao uso dos albergues durante a caminhada, e a cada ponto alcançado, há o registro da passagem do peregrino que ocorre com um carimbo na credencial.
Os caminhantes a pé (também é possível fazer o caminho de bicicleta, ou mesmo a cavalo) que tiverem carimbos como evidências de terem percorrido, pelo menos, os últimos cem quilômetros antes de Santiago de Compostela, recebem a “Compostelana”. Trata-se um certificado escrito em latim, que formaliza o cumprimento do objetivo de chegar a Santiago de Compostela.
Sempre que o dia 25 de julho (Dia de Santiago) cai em um domingo, o peregrino que vai a Santiago, não necessitando ter feito a caminhada, recebe uma indulgência ao passar pela “Porta do perdão” na lateral da Catedral: todos os seus pecados serão perdoados.
No meu caso, quando lá chegar, passarei algumas vezes pela porta, evidentemente pensando em meus amigos pecadores. Acreditem!
St. Jean Pied Port tem uma parte histórica que é estonteantemente linda. A impressão é que foi tirada de um postal. A Via Citadelle é uma descida estreita com uma igreja cuja arquitetura se encaixa no conjunto de casas antigas e arcos imponentes.
Cruza-se um rio por uma ponte, e não posso imaginar que algum peregrino com máquina fotográfica não a tenha documentado. E por incrível que pareça, fiquei tão deslumbrado que não a fotografei como deveria.
Nesse primeiro dia, não fiquei em um Albergue. Eu estava cansado, e uma recomendação de última hora facilitou minha decisão.
Duro mesmo foi dialogar em francês tanto com Madame Adine, minha anfitriã, quanto com as pessoas que me atenderam no restaurante, onde jantei.
Bom, o que importa é que não estou com fome, e enquanto escrevo, estou aqui num quarto repleto de móveis e objetos antigos, aquecido e pronto para dormir como um bom e cansado peregrino.
Uma garoa forte bate no telhado aumentando ainda mais o meu sono.
Confesso que estou um pouco ansioso, prestes a começar logo essa minha aventura. Pensando bem, ela já começou, e eu nem percebi.

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