sábado, 9 de janeiro de 2010
23. Sol em Triacastela
Tive uma noite um pouco estranha.
A subida me desgastou como se tivesse tomado uma grande surra. O sono da noite foi mesclado com um frio típico de febre, e pensei que a chuva tinha encontrado um jeito de me dar os sintomas de uma gripe, o que a essa altura me atrapalharia no restante de minha caminhada. Mas, felizmente, isso não aconteceu.
Com o fim do horário de verão, ganhei uma hora a mais, e a usei simplesmente para dormir e me recuperar.
E foi uma ótima escolha. Levantei animado, arrumei as coisas, e saí. Foi então que veio mais uma boa surpresa. Me deparei com um céu de brigadeiro, sem nenhuma possibilidade de nova chuva.
E, apesar do frio, encontrei as condições ideais para seguir em direção a Triacastela.
Paisagens de cartão postal novamente inundaram meus olhos, e os efeitos do dia anterior em meu corpo dolorido foram minimizados pelo conteúdo do envelope de “Dolorac”, um santo medicamento que conheci numa noite dessas, e que certamente levarei para eventuais usos futuros no Brasil.
Desfrutei a descida, cantei durante praticamente todo o tempo. Às vezes por estradas vazias, escapando por trilhas suaves, encontrando gente animada, enfim, o tempo foi passando e fui vencendo o percurso com tranquilidade.
Após tantas etapas, em dias como esse, aparece uma certa ansiedade para terminar logo esse Caminho, e é nessas horas que a paciência e a perseverança são definitivamente testadas.
Descobri, por exemplo, que existe mesmo e, com bastante força, aquela tentação de cortar caminho, fazer alguma “trampa” durante a caminhada para encurtá-la.
Mas descobri também que, felizmente, a força da persistência em atingir o objetivo dentro dos princípios do Caminho é muito maior; eu diria infinitamente maior.
E assim, vamos em frente. Faltam cento e trinta quilômetros até Santiago de Compostela, e peço a Deus para que as coisas continuem assim, e que eu atinja minha meta em boas condições.
Chegando a Triacastela, me deparei com um pequeno povoado com uma boa perspectiva de movimento. Está prevista para essa noite uma festa da castanha, e que incluirá a tal cerimônia da “Queimada”. Fico animado, e com saborosa curiosidade.
O povoado deve ter entre cinqüenta e setenta habitantes e, se vier todo mundo, o evento será utilizado para que o novo “alcade” (prefeito) seja eleito durante a festa.
Enfim, grandes expectativas para logo mais!
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