sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
24. Solidão
Que festa, que nada!
Veio novamente aquela forte sensação de frio, típica de febre, e que após o jantar, me levou diretamente à cama.
Mas acho que essa noite acabou sendo boa para um resgate. O resgate da minha energia.
Por esse motivo, felizmente, acordei bem disposto e segui animado na direção de Sárria.
Optei pelo caminho que me levava até o Monastério de Samos, e fiz isso por se tratar de um caminho feito por uma estrada e, teoricamente, mais movimentado.
Ledo engano. Nunca andei tanto por áreas rurais.
Cheguei a andar horas sem ver uma só pessoa. Que solidão!
Na verdade, uma solidão falsa porque todos os pensamentos eram cheios de movimento e de pessoas.
Confesso que em alguns momentos tive um pouco de medo. Mas fui passando por eles, e mudando de paisagem a cada quilômetro.
Os vinte e dois quilômetros de hoje, que me levaram a Sárria, me pareceram mais longos do que normalmente teriam sido. O corpo sentiu o desgaste crescente, e por isso decidi dormir melhor daqui pra frente. Quero chegar!
O próximo objetivo é atingir a faixa de distância a Santiago abaixo de cem quilômetros. E, para isso, amanhã bem cedo seguirei a Portomarín. Novamente a mesma pergunta: será que vai chover?
Hoje, vi Caetano Veloso num programa de TV. Seu show, que já tive oportunidade de assistir em São Paulo (Foreign Sound), faz o maior sucesso por aqui. Aliás, ele é um artista muito famoso também na Espanha, conforme pude perceber.
Os jogadores de futebol mais conhecidos também estão sempre em evidência. Quando digo que sou do Brasil, logo ouço o nome de Paulo Coelho. E, em seguida vem uma lista de jogadores de futebol.
Mas voltando ao Caminho, tenho tido bons contatos com senhores de mais idade aqui na Espanha. Frequentemente, me param, perguntam coisas, enfim, vão me ajudando a vencer as etapas.
Quando cuido mal de mim mesmo, quando não sou justo com meu corpo, ou quando estou com fome, sinto um pouco de raiva de tudo. Mas é só dar de cara com uma nova paisagem, ou um pássaro cantando na mata, ou mesmo o som de um dos muitos rios que cruzo durante a caminhada, e isso já mais do que um bom motivo para que eu saque minha máquina fotográfica, e registre o belo momento. Neste diário, incluirei as fotos mais interessantes que puder selecionar, para que o leitor possa ter uma idéia dos motivos de minha renovação diária, além é lógico de minha fé e perseverança, essas minhas mágicas companheiras.
As músicas da peça “Os Saltimbancos”, aquelas que cantei muito para minhas filhas quando ainda eram pequenas, voltam à minha lembrança. Canto sozinho, enquanto o ritmo das batidas de meu cajado vão marcando os meus passos e me conduzindo ao meu destino:
_ Au, au, au. Hi-ho hi-ho.
Miau, miau, miau. Cocorocó.
O animal é tão bacana
Mas também não é nenhum banana...
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