quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
12. La Rioja
Dormi e sonhei várias vezes com meu trabalho. Durante os sonhos, participava de reuniões complicadas aqui no meio do Caminho de Santiago, como se estivéssemos lá. Coisas da vida!
Mas enfim acordei e após o ritual corriqueiro da bagunça matutina de remontar a mochila, me levantei, e afinal não pude reclamar dessa noite.
Café da manhã rápido, e saímos mais cedo para uma distância bem longa.
Passando por lugares lindos, parando às vezes em pontos não menos interessantes e, de metro em metro, de quilômetro em quilômetro, a distância foi sendo vencida.
Viana foi a cidade intermediária que mais chamou a atenção, depois de visitarmos uma bela capela com torre octogonal construída pelos templários em Torres del Rio.
Viana é um daqueles povoados com ruas estreitas, muito movimento e uma igreja descomunal. Encontramos um repórter que está fazendo matérias diárias para a imprensa sobre o Caminho, e decidimos seguir por vezes a sua pista para tentarmos visitar lugares mais isolados e especiais, onde nem todos conseguem acessar. Esse é o caso da Catedral de Santa Maria Madalena.
Como não poderia deixar de ser, os comentários sobre o livro “Código Da Vinci” aqui também são muito fortes.
Mas, mudando de assunto, em minha vida profissional, sempre tive muito contato com as tintas que decoram as construções com todas as cores possíveis. Contudo, aqui tão longe, sinto uma grande frustração quando vejo tantas paredes sem a vivacidade das pinturas coloridas. Por outro lado, reconheço que essa ausência de cores, é a indicação da presença de uma só cor, a cor da história, e uma história muito antiga.
Bom, mas depois de quase trinta quilômetros, chegamos à Rioja.
Logroño é uma cidade bem maior. O albergue tem ótima infraestrutura e, após uma boa ducha, a limpeza das botas e objetos em geral, saí para ver e tomar um dos melhores vinhos do mundo.
Na “Calle Laurel”, há diversos pequenos bares, e em cada um pode-se tomar vinho e beliscar alguma coisa pra acompanhar. Tudo muito delicioso e especial.
Meus queridos leitores, nem preciso dizer o que fizeram, Francisco, Glória, eu mesmo, e todos os peregrinos que passaram a noite naquele lugar, não é mesmo?
Eu não fui exceção, e pela primeira vez, voltei ao albergue literalmente “borracho”, alegremente bêbado, e muito feliz.
Hoje, ao passar por uma parada obrigatória onde uma senhora à beira da estrada atende aos peregrinos, acabei deixando involuntariamente meu cajado, e quando fui ver, já era longe demais para voltar e buscá-lo.
Um peregrino me disse que não se deve insistir em tentar reaver algo que ficou pra traz. Se algo ficou, é porque fez parte do caminho, e agora não faz mais. Se ele não ficou comigo, é porque assim era seu destino.
Bem, como a distância era realmente muito grande, deixei pra lá. Depois encontrarei outro.
Mas nos momentos em que estive sozinho com meu cajado, pensei sempre em muitas coisas. No que estou fazendo, no que estou vendo, e no que estou vivendo em todos estes dias. E confesso que senti uma sensação muito boa, com um pouco de dor nos pés, é verdade, mas isso tudo certamente me dará a chance de compreender um pouco mais sobre a minha vida. Um nível mínimo da sabedoria que tanto busco, e que talvez fique mais próxima de mim.
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