domingo, 24 de janeiro de 2010
8. Puente la Reina
Uma parte do Caminho que traz muitas oportunidades de aprendizado é a vivência nos albergues. Antes de estar aqui, já sabia de praticamente tudo; da simplicidade, dos problemas decorrentes do uso contínuo de uma mesma estrutura por muita gente, o que resulta em camas não limpas, sanitários comunitários, um punhado de gente estranha dormindo ao lado e roncando como uma orquestra desafinada, enfim, tudo isso e mais alguma coisa.
Mas estar aqui, vivendo isso, é mesmo algo muito diferente.
Hoje, por exemplo, passei uma noite daquelas. Deitei tarde, fui o último a ir para cama, e foi a primeira vez que tive de entrar totalmente dentro de meu saco de dormir para ter um mínimo de certeza de estar dormindo num lugar limpo.
Travesseiro? Juntei duas roupas dobradas e as pus dentro de uma fronha, e este foi o melhor travesseiro que pude arranjar.
Concluí que dificilmente conseguiria encontrar uma cama mais suja que essa em todo o Caminho. Torci para estar certo.
Meus pertences de valor estavam comigo dentro do saco.
Estava ainda contrariado pois minha câmera apresentou um defeito logo após o jantar, e não consegui consertá-la.
Mas não havia dúvidas. Esta foi realmente uma das noites mais interessantes até agora.
Bom, mas agora já é de manhã. Estou aqui, matando um pouco de tempo até desativação total da orquestra de roncos, e logo estarei novamente com minha casa nas costas rumo a Estella.
Ontem, explorei um pouco a pequena e surpreendente Puente la Reina.
A formosa ponte romana (postal indescritível) foi construída por ordem de uma rainha chamada Doña Mayor, esposa do Rei Sancho Garcês III, el Mayor, (Rei de Navarra entre 1005 e 1035), para passagem de peregrinos. E este é um dos pontos mais emblemáticos de todo o Caminho.
Tirei muitas fotos, e ainda acho que fui econômico.
A igreja tem altares banhados a ouro com muitas imagens. O teto é gótico, uma torre octogonal, altares laterais, e gente católica de idade até bastante avançada a me observar passando com uma câmera digital nas minhas ansiosas mãos, como a querer perpetuar de alguma forma, um pouco de toda história que aquele pequeno pedaço de mundo continha.
Procurava, como sempre, uma imagem de Santo Antônio (o meu Padroeiro), quando uma senhora espanhola se levantou e me falou sobre uma outra imagem que estava à nossa esquerda. Era de Santiago, mas havia sido trazida de outro lugar, creio que Sevilha, e era muito, mas muito antiga.
Ouvi atentamente sua explicação, admirei a imagem e a fotografei com cuidado. Depois encontrei meu Santo Antônio, e após uma rápida oração, saí sob o acompanhamento de todos os olhares silenciosos e atentos, talvez despertados pelo tom brilhante de minha camiseta verde e amarela.
Vi outras coisas interessantes como a igreja de dois altares com um Cristo numa cruz em forma de “Y”; e para terminar o dia fui comer algo, porque afinal, ninguém é de ferro, nem mesmo um deslumbrado peregrino rumo a Santiago.
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