sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

10. Mordomias



Conforme falei ontem, comparado a um albergue, este hotel de uma estrela, ou hostal como é chamado aqui, é realmente um luxo.
Dormi como um rei dorminhoco. Acordei animado, arrumei tudo e saí. Fui ao correio, mandei mais algumas coisas para Santiago (mais de um quilo de tranqueiras a menos), mandei também CD´s de fotos para a família, e iniciei a jornada a Los Arcos.
Estava usando uma papete em meus pés para poupar os tendões, mas logo em seguida começou a chover, e então fui obrigado a colocar as botas. Ai que dor!
Hoje, pela hora tardia que saí, logo percebi que seria o último dos peregrinos do dia nessa etapa, e que andaria sempre sozinho. E foi bom. Cantei, fotografei, rezei, telefonei, comi uvas até me cansar delas, e assim o tempo foi passando.
Num momento estava totalmente só num raio de quilômetros. Uma incrível sensação!
Eu brincava com o eco, e aí passou um grupo de peregrinos, desses que andam com carro de apoio. Mochilinhas leves, passos tão rápidos, que nem vi quando sumiram no horizonte. Muitos criticam quem dorme num hostal, quem usa carro de apoio, quem desfruta de qualquer mordomia, afirmando que isso tira o valor do Caminho.
Eu penso diferente.
Gosto do convívio dos albergues, e tenho feito muitas amizades em todos eles, tenho respeitado os regulamentos com as suas diversas regras gerais, mas quando estou muito cansado, vou direto para um hotel. Desfruto o pouco, mas providencial conforto. Recarrego minhas energias, e com muita humildade, continuo meu desafio até Santiago, do meu jeito.
Mais uma vez eu repito: “Cada um faz o seu Caminho”.

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