domingo, 10 de janeiro de 2010
22. Cebreiro
Independentemente da solidão do albergue, tive uma noite com sono de boa qualidade. Acordei e, do lado de fora do dormitório, fiz o barulho normal de todas as manhãs na arrumação de minha mochila. Tomei um café rápido, me despedi do Sr. Angel na recepção com votos de melhoras ao Jesus Jato, e pus os pés na estrada.
O desafio de subir ao Cebreiro me excitava bastante.
Caminhei por longo tempo pelos acostamentos das estradas, passando rapidamente por vários povoados diferentes uns dos outros.
Resolvi parar num bar de estrada, mas meu traje de típico peregrino chamava muito a atenção dos turistas dos ônibus. Assim, me sentindo demasiadamente diferente, resolvi buscar um outro lugar mais tranqüilo.
Minha nova capa de chuva foi providencial nessa manhã, pois choveu bastante.
Antes de enfrentar o desafio da subida íngreme dos oito quilômetros, almocei muito bem. Aquela conhecida e deliciosa sopa de lentilhas, um filé de “ternera” (vaca), um bom vinho, e tudo o mais a que tinha direito.
Pelo horário dos espanhóis, eu almoço certamente cedo demais; e é por isso que os bares estão sempre vazios quando eu me sento faminto. Mas em todas as vezes, sou muito bem atendido.
Finalmente, reiniciei o caminho. Antes de pegar a subida de frente, fui abordado por um senhor espanhol que disse ter parentes em São Paulo. Tiramos a foto da amizade, anotei seu endereço, e motivado pelo novo amigo, fui em frente.
Levei até meu monitor cardíaco, e cheguei a 158 batimentos por minuto, somente caminhando. Algo que vale o registro.
O caminho era uma mistura de pedras, muita água de chuva que descia, e uma enorme quantidade de castanhas caídas. Que cenário!
A subida, conforme previsto, era extremamente inclinada, e uma chuva constante e intensa caía durante todo o tempo sobre mim.
Quando cheguei à parte bem mais alta, a paisagem novamente mudou. E novamente, meus olhos tiveram a chance de ver novas vistas panorâmicas dignas para algumas fotos ou cartões postais de alta definição.
Finalmente, entrei na Galícia! Uma invasão pacífica e muito feliz.
Fiz a foto oficial em frente ao “marco” que indicava a distância de cento e cinqüenta quilômetros de distância até Santiago de Compostela.
Entrar no Cebreiro foi uma experiência mágica. Imagine um lugar com edificações celtas, acinzentadas por uma névoa intensa, uma chuva persistente, mas ao mesmo tempo, uma atmosfera surpreendentemente calma.
Hospedei-me em um “hostal”, após tentar ir ao albergue local. Como não aparecia alguém para me registrar, carimbei, eu mesmo, a minha credencial, e fui buscar outro lugar.
Sinceramente, preferi ficar num lugar onde pudesse sair de toda aquela umidade, um lugar que tivesse uma boa calefação para secar bem minhas roupas, e me aquecer adequadamente depois de uma ducha bem quente.
Saí tão apressado do albergue que acabei esquecendo meu cajado. Mas, voltar lá e poder reencontrá-lo, foi muito bom. Afinal, esse meu companheiro de jornada me ajudou muito nos desafios desse dia especial. Apoiou-me e evitou prováveis quedas como um verdadeiro amigo.
Comi alguma coisa que aqueceu meu corpo, tomei uma bebida típica que a proprietária do lugar me ofereceu, e voltei rapidamente ao meu quarto.
Será que minha roupa vai secar a tempo?
Nessa noite chuvosa, quero dormir um pouco mais, pois terminará o horário de verão por aqui, e quero desfrutar esse ambiente quentinho embaixo dos cobertores.
Haja calefação suficiente nessas noites chuvosas e frias! O que seria de mim sem ela?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário