sábado, 16 de janeiro de 2010
16. Pela madrugada
No meio da noite, eu sonhava um daqueles sonhos absurdos, e nele apareceu uma de minhas filhas. Ela parecia ainda bastante criança, e quando a percebi tão próxima, acordei assustado, talvez por acúmulo de uma saudade aguda, que naquele instante, se apoderou de mim.
E, como não costumo obter grandes resultados com a contagem de carneirinhos para voltar a dormir, comecei a imaginar sobre o que pensam todas essas pessoas, que dormem nessas várias camas beliche à minha volta, enquanto caminham. Afinal, elas convivem comigo nessa grande aventura.
Alguns estão totalmente sozinhos, e suas interações com outras pessoas são meramente superficiais. Outros, embora sozinhos, estão sempre integrados aos outros peregrinos, como se fizessem parte de uma família. E ainda há outros, como o exemplo de Grañon que relatei ontem, que se conhecem no Caminho e seguem juntos a partir de então. Uma integração plena.
Enfim, cada um tem sua forma e seu jeito de interagir durante sua experiência rumo a Santiago. Buscam objetivos diferentes, e acabam encontrando resultados mais surpreendentes ainda.
Aqui, estamos todos concentrados, e pelo menos uma meta é comum a todos, a de chegar a Santiago de Compostela. Talvez por esse motivo, tudo em relação ao nosso contato cotidiano fique tão latente, e também tão emocional.
Eu, pessoalmente, estou desfrutando muito de tudo. Não tenho idéia de como as pessoas me vêem. Uso a minha empatia para fazer contatos, mas confesso que gosto da busca de energia em mim mesmo e em minha fé.
Estou imaginando como serão as coisas a partir do momento em que estarei caminhando sozinho logo mais. Terei medo? As paisagens serão mais bonitas? Chegarei até meu objetivo?
O jeito é esperar para ver, e seguir em frente nesse novo Caminho.
Como estou inteiro nessa viagem, e toda a minha vida parece se resumir a isso, a prioridade se polariza em cada vivência, em cada fato diferente que ocorre.
Mas, o óbvio, é que independentemente de onde estivermos, aqui tão longe, ou mesmo no dia a dia de nossas casas, estaremos sempre seguindo o caminho muitas vezes incerto de nossas próprias vidas. Com as dúvidas e conseqüências de nossas escolhas.
E, creio que assim deve ser.
Acho que isso tudo trouxe meu sono de volta. E, por que não dormir mais um pouco? Até logo mais!
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