quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

26. Palas de Rei


Choveu à noite, e o dia que mal começava, prometia ainda mais chuva.
Uma dúvida sobre a direção a seguir, trouxe a oportunidade de conhecer um peregrino que me acompanharia por toda essa etapa.
Aitor, 32 anos, engenheiro industrial, foi um bom papo e simplificou a caminhada até Palas de Rei.
Aitor me contou uma história interessante que ocorreu com ele em San Juan de Ortega.
Já contei aqui que o albergue de lá só tem água fria. Pois para ele e um peregrino que o acompanhava, uma senhora hospitaleira contou que havia água quente, e a ofereceu somente para eles.
Isso já foi uma primeira surpresa. Eu e meus colegas quando por lá passamos, nem quisemos ficar justamente pela dura expectativa de um banho gelado.
E, em seguida a tal senhora lhes ofereceu a famosa e quente sopa de alho.
Imediatamente, veio à sua lembrança a imagem de sua avó, pois ele se lembrou que a última vez em que havia tomado uma sopa de alho, a mesma havia sido preparada carinhosamente por ela.
Nem se lembrava quantos anos já haviam se passado, mas tinha certeza de que ainda era uma criança.
A senhora do albergue o tratou com todo carinho possível, e até disponibilizou um local tranqüilo e aconchegante para que ele pudesse escrever em seu diário. Enfim, ela o tratou exatamente como sua avó o teria tratado, se pudesse tê-lo reencontrado.
Evidentemente, Aitor descreveu isso tudo em seu próprio diário.
A surpresa final veio quando, por curiosidade, perguntou o nome daquela senhora, e seu nome era Júlia. Simplesmente, era esse o nome de sua avó.
Ficou perplexo, mas muito feliz com aquela coincidência. Ou será que não foi somente coincidência?
Pois é, e assim, chegamos rapidamente ao meu destino. Digo ao meu destino, pois Aitor ainda seguiu um pouco mais, pois queria chegar mais rapidamente ao final de seu caminho.
O jantar em Palas de Rei deu-me a chance de conhecer novas e simpáticas pessoas; e mais uma vez a minha solidão foi dormir em outro lugar longe daqui.
Amanhã começa a antepenúltima etapa de minha longa caminhada. Estou a sessenta e cinco quilômetros de Santiago, e o tempo agora parece andar mais rápido que antes.
Não vejo a hora de ver ao longe as torres da Catedral. Penso que corro o risco de chorar. Será?
Alguém pode imaginar o que comerei amanhã no meu almoço na cidade de Melide?

2 comentários:

  1. Seu almoço será pulpo, na Pulperia mais famosa de Melide!! Aposta quanto??
    Buen camino!
    Solange

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  2. Solange
    Acertou no pulpo, quero dizer, na mosca.
    Que delicia de momento!
    Abraço e Buen camino pra você também!
    Vitor

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