quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
19. Pensamentos no trem
Enquanto o trem segue para Astorga, vejo que o tempo melhora e isso me dá um ânimo inesperado.
Estou me sentindo um peregrino de verdade, e isso é algo diferente. A barba de quinze dias, a roupa úmida pela chuva em Burgos, e o ambiente já peculiar, fazem com que eu me sinta assim, e isso é uma sensação boa.
Nunca gostei de cheiro de umidade e agora tenho que conviver com isso, pelo menos por mais algum tempo, mas é algo que desfruto com um prazer especial de quem quis viver uma experiência nova, e agora se vê no meio dela, desfrutando-a plenamente.
Vou chegar ao meu destino de hoje, tomar um bom banho, secar até a alma, e explorar um pouco mais essa nova cidade. Quem sabe, vou comer um “Maragato”, que me disseram ser um prato bastante forte e típico da região.
Hoje, durante o caminho, estivemos falando um pouco sobre essa opção de não enfrentar os desafios que nos exijam abrir mão de um nível mínimo de confronto. É difícil acreditar que algumas pessoas façam isso por um motivo qualquer, e o fato é que muitas pessoas chegam até a não gostar de desafios.
Mas é fácil imaginar o quanto aprendem as pessoas que definem seus objetivos, lutam para alcançá-los, e vencem dificuldades aparentemente indestrutíveis.
A primeira e principal barreira parece ser a descrença dos outros em relação às nossas possibilidades.
Mas, afinal, é ótimo perceber que o resultado somente aparece, e de forma clara e cristalina, para os perseverantes, para aqueles que nunca desistem. Independentemente dos obstáculos que encontram.
Aqui, nesse momento especial, onde me sinto estranhamente solitário num vagão de trem, tendo a companhia de pessoas desconhecidas, e que dificilmente voltarei a ver, constato estar refletindo sobre algo que tem sido parte constante de minha vida.
É certo que muitas vezes não temos total clareza da visão que queremos concretizar, mas quando ela se define em nosso horizonte, tudo fica mais simples, e mesmo que a escalada, a estrada, seja repleta de desafios, são justamente eles, que nos alimentam e nos dão mais energias e motivação para continuar.
Vejo pessoas que esmorecem ao primeiro obstáculo, pessoas que desistem antes da chance da retomada, da reviravolta que a auto-motivação pode nos proporcionar. E é aí, que outros menos sensíveis avançam, e conquistam algo que poderia ser conquistado por todos.
Persistir, perseverar, nunca desistir, ser resiliente, retomar quando tudo indica o contrário como melhor caminho; tudo isso parece uma receita ilógica para a auto-realização, mas podem acreditar que funciona.
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